sexta-feira, 9 de novembro de 2007

postagem matinal

Eu tinha vinte anos e era um garotão maneiro e tudo o que eu fazia naqueles dias era ficar coçando o saco, enquanto pensava em sacanagem e estralava uma cerveja atrás da outra. Minha mãe vivia achincalhando meu brazilian way of life e fazendo novena pra eu mudar de vida. Na rua, as babies em flor sorriam serelepes pra moçada bronzeada da minha idade que praticava halterofilismo e jogava voleibol. Eu tinha uma pancinha precoce e proeminente e nenhum charme aparente e nenhuma disposição pra levantar o rabo da frente da geladeira onde repousavam doces cervejocas, a não ser pra comprar novas cervejocas ou pra trocar Gibi com o Chico da venda. De mais a mais, eu sempre achei esse negócio de puxar ferro e voleibol uma tremenda de uma viadagem. O meu melhor amigo era o Zulu, um crioulo macumbeiro, decididamente a versão black do ET. A gente saía junto e era um arraso. A cachorrada latia, as garotas xingavam, a rapaziada queria dar porrada e a velharada fazia o sinal da cruz. O Zulu e eu éramos a dupla de truco mais temida da vila, e de sinuca também. Pra falar a verdade, eu sempre fui meio malandro otário, jogador de sinuca e comedor de paçoquinha, mas era assim que eu era feliz. Mas também, fazer o que, né? O santo da mãe nunca foi muito forte. Mas aí pintou a Sandrinha, inteirada em literatura e rock and roll, e devoradora de rango natural. A casa dela era um verde só. Tinha samambaia até dentro da geladeira. A gente se cruzou numa quermesse que era pro padre arrecadar grana pra construir mais uma casa paroquial. Tava escalando uma montanha de batatinha frita ali pela quinta cerveja quando ela irrompeu no salão a tira colo com um japa mirradinho. Dei um toque no Zulu que tava parado numa neguinha de traseiro generoso. Ele sorriu dentes cariados e voltou a cuidar a crioula que tinha umas tranças afro charmosissimas. Então eu tava assim, bebendo cerveja e comendo batatinha frita, quando três desses sujeitos que andam com medalhões de ouro nos pescoços entraram numas de dizer gracinhas pra Sandrinha e eu, revoltado e indignado, resolvi dar um tempo da cerveja e das batatinhas e fui apertar o nariz dos caras. Mal cheguei perto e abri a boca, um anel de ouro veio pousar bem dentro dela acompanhado de um punho que eu jamais convidaria pra tratar dos meus mal cuidados dentes. Fiquei vendo constelações enquanto o japa mirradinho ceifava cabeças e fazia vôo rasante sobre as mesas. Quando acordei, estava num sofá verde, que ficava sobre um tapete verde em um apartamento verde. Sandrinha me serviu uma vitamina de abacate e eu fiquei esperando pintarem os marcianinhos ou a torcida organizada do Palmeiras. Sandrinha me explicou que o japa era faixa preta de uma dessas lutas orientais (por mim, tudo bem), e tinha dado um jeito nos caras antes de me trazer pra cá pra que ela tratasse de mim. Abençoei o japa e Sandrinha me mostrou gravuras pop e discos de rock and roll. Achei tudo muito muito e perguntei se ela não tinha uma cervejinha na geladeira. Me serviu com uma latinha que eu estralei na hora e tratei de dar sumiço no liquido. Sandrinha era um amor, e talvez por isso mesmo passou a me olhar como se eu fosse uma folha de alface, e então me convidou pra conhecer sua coleção de fotos de Audrey II, aquela plantinha simpática e canibal que cantava uns funks no filme "A Pequena Loja dos Horrores". Me confidenciou que o seu álbum com fotos de Audrey II estava no quarto, e foi na frente me mostrando o caminho. Me armei de mais uma atraente latinha de cerveja e a segui decididamente fascinado pela gata e pelas prováveis latinhas de cerveja no provável frigobar do quarto. Quanto entrei, notei que não havia frigobar, mas havia uma cama forrada com um lençol com baleiazinhas esguichando, o inevitável álbum com fotos de Audrey II e um pôster em alto relevo do Fernando Gabeira, além de um porta retrato no criado mudo com o Sting abraçando o Raoni. Sandrinha sentou-se na beirada da cama e maliciosamente natural, desabotoou a blusa, deixando a mostra dois suculentos peitinhos ornamentados com duas suculentas tetinhas pontudas. Dei um ultimo gole na cerveja e caí matando no leite, digo, nos peitos. Sandrinha me fez jurar que eu iria me filiar ao PV e só depois abriu as pernas. Fiz uma prece ao Mico Leão Dourado e fui fundo. Entre um beijo e outro, jurava fidelidade ao Gabeira. Sandrinha ficou possessa. Na verdade, Sandrinha vegetariana era uma antropófaga na cama. Começou a chupar meu pobre pau implacavelmente e eu comecei a rezar pra que a precoce não emplacasse desta vez. Todas aquelas adoráveis latinhas de cerveja na geladeira contavam com isso. Sob veementes protestos da canibal travestida de ecologista, arranquei meu pau da boca dela e tratei de tentar despi-la. Foi aí que ela me jogou na cara que eu era um desajeitado. Nunca fui bom pra tirar roupa de mulher, sempre me dei melhor abrindo garrafas. Sandrinha saltou da cama com os seios arfando e o zíper da calça aberto, colocou um bem vindo Rolling Stones no toca discos e deu início ao que eu chamaria de um Strip tease pós Salomé. Coloquei a cabeça do meu pau na bandeja pra baby que ficou de costas pra mim, e foi lentamente abaixando a calça, e qual não foi minha surpresa então, pois a tanga que ela estava usando não era verde como eu imaginava e até apostaria minha garrafa de Orloff nessa. Era lilás. A tanga era lilás. Mais tarde ela me confessaria entre gemidos que era uma simples e singela homenagem ao Gabeira. Ela se virou, e então eu vi, na tanga, ali onde a xoxota se esconde, uma doce foquinha com a sugestiva inscrição: "Toda a liberdade às focas". Sandrinha se livrou da tanga politiqueira e se atirou sobre mim. Acabou de tirar minha cueca no dente, e porra, eu não tô exagerando nem um pouco, me devorou. Lembrei a Sandrinha que o pôster do Gabeira tava de olho, ela resmungou qualquer coisa sobre sexo livre e continuou o seu ritual antropofágico. Meu pobre pau me olhou com cara de Danton a beira da guilhotina, devolvi a ele meu olhar de incapaz, e então foi terrível o que ela fez. Por sucessivas vezes colocou e tirou meu pau da sua xoxota. Comecei a imaginar delirantemente quantos paus já tinham entrado e saído daquela xoxota cruel. Sandrinha não passava de uma aliciadora de pobres garotos apolíticos e alienadões para o seu partido, e porra, como ela sabia ser convincente. Se virou de costas pra mim, ficou de quatro e gritou duas palavras de ordem tipo "Beterraba" e "Pimentão". A bunda da Sandrinha era redonda como uma bola de futebol de salão. Comi a bunda da Sandrinha, e o sol pintou na janela testemunhando a apoteose da sacanagem. O gozo saiu como um esguicho de uma daquelas baleiazinhas no lençol. Sandrinha desmaiou com a cara no travesseiro, cônscia do dever cumprido. Tirei meu pau e dei duas boas balançadas. Senti o sol nos olhos, coloquei um óculos escuro e fui pelado até a cozinha, abri a geladeira e peguei uma latinha de cerveja. Voltei pro quarto e fiquei parado na porta, pelado, olhando Sandrinha dormindo, nua. Ela era um bocado bonita. Me sentei na beirada da cama, estralei a cerveja e dei um gole, entediado. Sandrinha ronronou ao meu lado. Pensei na mãe e sorri.

Mario Bortolotto