sexta-feira, 6 de agosto de 2010

apanhador

- Francamente, Holden, não sei o que lhe dizer.
- Eu sei. É difícil falar comigo. Compreendo.
- Tenho a impressão de que você esta caminhando para uma espécie de queda... uma queda tremenda. Mas, honestamente, não sei de que espécie... Está meu ouvindo?
- Estou.
A gente via logo que ele estava procurando se concentrar e tudo.
- Talvez da espécie que faz com que a gente, aos trinta anos, se sente num bar e odeie todo mundo que entra com jeito de quem jogou futebol numa universidade. Ou, então, você conseguirá instruir-se o bastante para odiar todo mundo que diz: “É um segredo entre mim e você”. Ou talvez acabe em algum escritório, atirando clipes na taquigrafa mais próxima. Não sei mesmo. Mas você entende o que estou querendo dizer, não entende?
- Entendo – respondi. E entendia mesmo. – Mas o senhor se engana sobre esse negócio de odiar os jogadores de futebol e tudo. O senhor se engana mesmo, Não tenho raiva de muita gente. Pode ser que, de vez em quando, eu odeie alguns sujeitos durante algum tempo, como esse cara que eu conheci no Pencey, o Stradlater, ou esse outro sujeito, o Robert Ackley. De vez em quando eu tinha ódio deles, confesso, mas isso não dura muito tempo, quando eu tinha ódio deles, confesso, mas isso não dura muito, esse é que é o caso. Depois de algum tempo, se eu não os visse, se não vinham ao meu quarto, ou se eu passava umas duas refeições sem encontrar com eles no refeitório – chegava a sentir falta deles. É isso mesmo, chegava a ficar com saudade deles.
O professor Antolini ficou uns dois minutos em silêncio. Levantou-se, apanhou outro pedaço de gelo, deixou cair no copo e aí sentou de novo. Via-se que ele estava pensando. Fiquei torcendo pra que ele deixasse a conversa pra outro dia, em vez de continuar naquela hora, mas ele estava embalado. Em geral, as pessoas se esquentam numa discussão na hora que a gente está mais frio.
- Está bem. Agora, escuta aqui um momento... Pode ser que eu não consiga expressar isso tão bem quanto eu gostaria, mas escrevo uma carta pra você amanha ou depois explicando tudo. Aí você vai entender direitinho. De qualquer maneira, presta atenção agora.
Começou a se concentrar outra vez, e aí disse:
- Esta queda para a qual você esta caminhando é um tipo especial de queda, um tipo horrível. O homem que cai não consegue nem mesmo ouvir ou sentir o baque do seu corpo no fundo. Apenas cai e cai. A coisa toda se aplica aos homens que, num momento ou outro de suas vidas, procuram alguma coisa que seu próprio meio não lhes podia proporcionar. Ou que pensavam que seu próprio meio não lhes poderia proporcionar. Por isso, abandonam a busca. Abandonam a busca antes mesmo de começá-la de verdade. Tá me entendendo?
- Sim, senhor.
- Está mesmo?
- Estou sim.
Levantou-se e despejou mais um pouco de bebida no copo Aí se sentou de novo. Ficou um bocado de tempo sem dizer nada.
- Não quero te assustar – ele disse – mas vejo você, com toda a clareza, morrendo nobremente, de uma forma ou de outra, por uma causa qualquer absolutamente indigna.
Me olhou de um jeito engraçado.
- Se eu escrever umas palavras pra você, promete que vai ler cuidadosamente? E guardar?
- Prometo, sim – respondi. E era verdade. Até hoje guardo o papel que ele me deu.
Foi até a escrivaninham no outro lado da sala e escreveu alguma coisa num pedaço de papel, sem se sentar. Aí voltou e se sentou, com o papel na mão.
- Por estranho que pareça, isso não foi escrito por um poeta. Foi escrito por um psicanalista chamado Wilhelm Stekel. Aqui está o que ele... Você ainda está me ouvindo?
- Claro que estou.
- Aqui está o que ele disse: “A característica do homem imaturo é aspirar a morrer nobremente por uma causa, enquanto que a característica do homem maduro é querer viver humildemente por uma causa”.

Um comentário:

amanda. disse...

apanhador no campo de centeio? Preguiça de ler u_u