Para que serve a vida e o que vou fazer com ela? Não posso ler todos os livros que quero; não posso ser todas as pessoas que quero e viver todas as vidas que desejo. Não posso desenvolver em mim todas as aptidões que quero. Mas por que eu quero? Quero sentir as nuances, os tons e as variações das experiências físicas e mentais possíveis de minha existência. Mas sou terrivelmente limitada. Contudo, não sou incapaz, cega e estúpida. Tenho muita vida pela frente, mas inexplicavelmente sinto-me triste e fraca. No fundo, talvez se possa localizar tal sentimento em meu desagrado por ter que escolher entre tantas alternativas. As pessoas são felizes --- se isso quer dizer contentar-se com seu quinhão: sentir-se confortável como o pino redondo complacente que se insere num orifício circular, sem arestas incômodas ou dolorosas --- sem lugar para reflexões e questionamentos. Não me contento! Pois meu quinhão é limitador, como o dedo de todo mundo. As pessoas se contentam; acabam por se dedicar a uma idéia; as pessoas “se encontram”. Mas o próprio contentamento que vem de você se encontrar é obscurecido pela constatação de que, ao fazê-lo, não só se admite ser esquisita, mas um tipo específico de esquisita.
(Sylvia Plath - Julho de 1953)
2 comentários:
gostei do texto sylvia
tambem gostei
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