quinta-feira, 18 de novembro de 2010
tem frango na minha marmita
E o meu dinheiro tá embaixo do colchão, não tá no banco rendendo uns 20 reais. Eu tô naquele emprego. O enrolado só sai daqui a quinze minutos, moça. E também não to ligando se vou pegar dp em metade das matérias da facul, não que elas sejam muito difíceis ou que eu não tenha tempo para estudar, eu só não to com vontade de estudar. Legal, não vou conseguir uma bolsa da fapesp. E tô naquela cidade, todo mundo quer ir embora daquela cidade.E eu não posso ser promovido no meu emprego, mas me parece bom, porque meu pai me dá carona na ida e porque tem frango na minha marmita, apesar de eu preferir boi. Quando eu era um boi, tudo tava certo. Hoje me parece quase tudo certo, porque eu posso beber no sábado, também posso beber na sexta e ir trabalhar de ressaca, o que me deixa um pouco mais simpático na primeira meia hora de trampo. E me parece bom ter um colchão e um travesseiro. Apesar de eu não usar o travesseiro, eu o abraço de vez em quando. Eu não faço academia e não dou trinta voltas nem no meu quintal, isso não me deixa jogar bola como antes e vai me deixar mais gordo e me matar aos poucos, assim como a cerveja do final de semana. Tem também a minha bronquite e a minha asma, que não me deixam jogar bola como antigamente. Não que eu jogasse muito, ou que nunca cansasse, longe disso. Eu poderia viver assim pra sempre se não ferisse me orgulho, por enquanto não fere tanto a ponto de eu tirar minhas mãos do bolso, minhas mãos tão descansando. Acho que meus pais não ligariam se eu morasse com eles pra sempre. Eu queria morar sozinho ganhando o que eu ganho, trampando onde eu trampo, nessa mesma cidade. Claro que dá pra fazer isso, mas eu não tô com a mínima raça de ver isso agora.
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