sábado, 5 de julho de 2008

Pauleta de volta...

Necessidade de desmantelar o sistema de ensino!!!

Baseando-se nos materiais didáticos utilizados nos sistemas de ensino mais renomados dos cursos de ensino médio e pré – vestibulares freqüentados pelas classes médias e altas, podemos verificar que a História ensinada é direcionada apenas para a formação de seres com concepções estritamente econômicas, taxativas, truncadas e sem a mínima valorização do espírito crítico e do estudo entusiasmado da personalidade humana.
Não que o estudo econômico não seja importante, mas a maneira como é ensinada a História, nessas maçantes apostilas de colegial, condiciona o indivíduo na impressão de que não existem pessoas com desejos ardentes e latentes movendo a história e sim apenas estados, crises e sistemas, e também não nos deixa imaginar que existissem humanos – históricos e atuais – com pensamentos próprios, peculiares e criativos, extrínsecos à grande máquina de encadeamentos técnicos.
Ao estudarmos, por meio do ensino mencionado, a “descoberta” do Brasil e América, temos muitas páginas falando sobre transição do feudalismo para o capitalismo, as crises que atingiram a Europa no início do século XV, a ascensão da burguesia, o crescimento urbano e muito pouco, ou quase nada, se menciona os ideais filosóficos do humanismo renascentista que valorizava o crescimento do homem e do seu mundo, o espírito de aventura e curiosidade pelo desconhecido dos navegantes e os nítidos impulsos místicos e religiosos.
Os vários parágrafos que tratam sobre os motivos políticos e econômicos são extremamente técnicos e, dessa forma, nos põe de lado a consciência do quando é fundamental a inspirada tentativa de desvendar os movimentos mentais, passionais, fetichistas, e meramente psicológico por trás de cada ação ocorrida.
O antropólogo contemporâneo Gustavo Steinberg, que estuda a Teoria das Redes (os fatores sociais a partir das redes de interesses), acredita que os interesses de cada humano, dos mais singulares possíveis, moldam a estrutura econômica com muito mais eficiência do que a simples dicotomia das classes sociais. Não que a monstruosa exploração do homem pelo homem e as injustiças não sejam reais deveras, mas somos compelidos a falar das diferenças sociais como o único viés possível para compreender o ser humano. Esse viés, quando é único, atrapalha nossa sensibilidade para o aprofundamento na complexidade da personalidade. Há uma série de elementos na memória individual de cada indivíduo que compõem nossas fantasias e desejos em relação aos objetos e às pessoas ao nosso redor. Dessa forma, mesmo um sujeito que esteja passando fome, ao pensar no feijão, ele não pensa apenas em saciar a fome, ele pensa em determinado tempero para a comida, nas pessoas que lhe faziam companhia quando ele podia alimentar-se, e enfim... Conclui-se, então, que somos seres fetichistas.
O fetiche é um fator de grande importância que tanto nos faz bem para nos estimular à criatividade e nos fazer seres únicos quanto nos torna imaturamente suscetíveis, obviamente que de maneira nada saudável e bem próxima à patologia do consumismo, aos slogans e propagandas capitalistas.
É claro que em se tratando da Europa no século XV estamos falando de um mundo e contexto distantes do neoliberalismo acirrado e da globalização mentora de propagandas chamativas estimulante do culto às marcas e aos logotipos, mas, mesmo assim, será que o fetiche intrínseco ao culto da busca por status, posições sociais privilegiadas, píncaros hierárquicos não é um fator relevante que acompanha o humano desde os primórdios? E não seria ele um fato real – mesmo que ele ocorra de forma distinta da obcecação imatura de hoje pelos produtos atuais, que são muito mais o desejo imposto propaganda do que a utilidade em si – na motivação do Europeu na descoberta da América? Será que existe grande diferença na estrutura da personalidade humana seja dos antigos gregos e egípcios, seja do homem da idade média, seja do homem atual? Houve algum tipo de evolução e modificação?
O estudo condicionado mencionado da História tenciona nos deixar susceptível a ter uma estreita visão de que existe certa forma de evolução na transição de um sistema para o outro, ficamos compelidos a acreditar, por exemplo, que o capitalismo é superior ao feudalismo e, por conseguinte, apresenta menos injustiças. Que o humano que escravizava já não escraviza... Mas isso é mesmo uma verdade?
Não. Uma mínima consciência nos faz ver que não houve evolução no altruísmo e benevolência no que compõe a estrutura da sociedade: a exploração do homem pelo homem continua da mesma forma voraz que havia na Antigüidade; temos, na atualidade, a escravidão infantil na confecção de tênis depois vendidos por lucros exorbitantes e também venda de mão de obra demasiadamente baratas, de maneira que possibilite o sujeito explorado a manter a sobrevivência e nada mais. A escravidão não se extinguiu.
Somos seres exploradores desde quando o homem racional existe, portanto, não houve grandes modificações de personalidade através da história e nem uma evolução positiva na benevolência humana.Somos tanto seres exploradores como também místicos e fetichistas, e, por conseguinte, criativos e criadores. Nossas produções artísticas e intelectuais não são sempre as mesmas. Não que haja evolução, mas há, sim, acúmulos e expansões de artes de todas as espécies. O que diferencia um ser de muitos séculos atrás de um ser atual é o estilo de sua produção cultural.
Mas o sistema de ensino atual, que impera como reflexo do hediondo sistema capitalista, nos priva a ciência desse fato luzidio e impregna aos seus discentes pouco lúcidos a crença de que os motivos lúdicos, a imaginação rebuscada, o imaginário, os anelos passionais, a busca pelo desconhecido, o instinto do novo, aguçado pela curiosidade ardente do inefável, que tanto tiveram influência na Europa na época descoberta da América, são fatores irrelevantes que merecem não mais do que a vaga inferência de que esses são fatos que foram ínfimos modificadores do curso da História.
E também não é estimulada nenhuma tentativa de desvendar o verdadeiro sentido da intensidade do impulso pela aventura marítima que, para o historiador Bóris Fausto, “não é possível tentar entendê-la com olhos de hoje”, em uma época em que “estávamos muito distantes de um mundo inteiramente conhecido, fotografado por satélites, oferecido ao desfrute por pacotes de turismo. Havia continentes mal ou inteiramente desconhecidos, oceanos inteiros ainda não atravessados. As chamadas regiões ignotas concentravam a imaginação dos povos europeus, que aí vislumbravam, conforme o caso, reinos fantásticos, habitantes monstruosos, a sede do paraíso terrestre”.
Bóris Fausto conta ainda que “Colombo pensava que, mais para o interior da terra por ele descoberta, encontraria homens de um só olho e outros com focinho de cachorro. Ele dizia ter vistos três sereias pularem para fora do mar, decepcionado com seu rosto: não eram tão belas quanto ele imaginara. Em uma de suas cartas, referia-se às pessoas que, na direção do poente, nasciam com rabo. Em 1487, quando deixaram Portugal encarregados de descobrir o caminho terrestre para as Índias, Afonso de Paiva e Pero da Covilhã levavam instruções de Dom João II para localizar o reino do Preste João. A lenda do Preste João, descendentes dos Reis Magos e inimigo ferrenho dos muçulmanos, fazia parte do imaginário europeu desde pelo menos meados do século XII. Ela se constitui a partir de um dado real – a existência da Etiópia, no leste da África, onde vivia uma população negra que adotara um ramo do cristianismo”.
Isso nos faz ver que não apenas a economia que move a História, como também os anseios pelo lúdico e a busca pelo desconhecido. Mas se alguns historiadores, embora com a consciência de que não devemos tomar os fatores aventureiros como fantasias desprezíveis, são crentes de que “não há dúvida de que o interesse material prevaleceu”, outros não são mais cabais a considerar a História movida por aspectos místicos do desejo humano.
Um grande exemplo é o autor citado no prefácio do livro de Sérgio Buarque de Holanda, Visão do Paraíso que acredita que tal visão foi “principalmente responsável pela grande ênfase atribuída na época do Renascimento à natureza como norma dos padrões estéticos, dos padrões éticos e morais, do comportamento dos homens, de sua organização social e política”.
E, além disso, questiona se “os motivos edênicos não poderiam dar margem a uma ampla teoria, onde toda a História encontraria a sua explicação”.
Nada aprendemos na escola sobre a esperança do Europeu do encontro do Jardim do Éden ou sobre o que Colombo esperava aqui encontrar na América. Quando há a pequena menção das motivações humanas é, na maioria das vezes, os motivos totalmente econômicos e políticos da Coroa européia.
É lógico que não pode se negar que esses motivos existiram e tiveram influência indelével, mesmo assim, nesse estudo, não é esmiuçada e aprofundada a tentativa de cavoucar o verdadeiro pensamento do rei ou da rainha por trás do investimento e financiamento das grandes viagens marítimas.
O sistema de ensino esquizofrênico, que despreza da História os seus mais ricos aspectos humanísticos e culturais, e professores atuando como pessoas automaticamente condicionadas na missão psicótica e obcecadas em fazer com que os seus aprendizes repitam informações como fórmulas matemáticas sem desenvolver a liberdade de questionamento e a valorização da singularidade do cérebro de cada ser vivo – históricos e contemporâneos – como grandes modificadores da estrutura da sociedade, é reflexo do capitalismo vigente que opera como uma grande e eficiente máquina que tenciona moldar cada humano como uma peça que opera para a manutenção do funcionamento do grande aparelho que esteia o sistema.
Desde que existem pessoas no mundo, em cada momento histórico, houve um sistema operando como a grande máquina e suas peças em funcionamento. O que nos é induzido a estudar são as ações da peça em funcionamento eficaz e não a estrutura consciente e inconsciente de cada uma delas.
Mas, sempre existiu, e sempre existirá, aquelas peças que, por ter desenvolvido a consciência, pára de funcionar e passa a ser um pensamento por si só e não mais uma peça que apenas contribui com a grande máquina.É certo que o atual sistema econômico funciona eficazmente porque a maioria dos indivíduos opera nele sem questionamento e, quando ele há, sem grande avidez para a mudança. São apenas as raras peças fora do eixo que adquirem lucidez e inspiração para pesquisar e ser capaz de traçar uma História distinta daquela que nós nos acostumamos a absorver.

Esse ensaio foi um seminário apresentado por mim, Paula Cicolin, na disciplina História da América na Universidade Federal de São Paulo.

3 comentários:

Anônimo disse...

humilhou

Unknown disse...

ta entre aspas
hehehe

\o/ disse...

Aspas???
Tá Louco???
Onde????