sábado, 11 de dezembro de 2010

intercepto

morava na casa do caralho no meio do nada em são paulo. fui a primeira geração da família que nao jogava bola na rua. meus irmãos mais velhos jogaram e o gol ainda tava pintada na parede da casa da maria italiana. claro que uns muleques jogavam mas eu me limitava (era limitado) a interagir com a rua através de avioezinhos de papel que eu tacava lá de cima. um infância bem estranha. não era viciado em quase nenhum desenho animado específico. brincava pouco com carrinhos e bonequinhos se comparado as outras crianças. eu lembro que quando algum amigo da escola ia em casa sempre rolava uma pergunta do tipo: mas o que você faz normalmente?. e eu não sabia responder. não sabia mesmo. nem eu sabia oque eu fazia na maior parte do tempo. um dia caiu uma bola lá em casa. eu ficava brincando e chutando e tudo o mais. não que eu fosse pobre e nunca tinha tido uma bola. mas sei lá. eu e a bola nos demos bem e eu tava passando boa parte do tempo com ela. papai então disse: essa bola não é sua, se você quiser uma bola a gente compra uma bola. sinceramente eu não lembro se era possível saber de quem era a bola. eu só sei que ninguém lá de casa negava devolver nada pra alguém que batesse lá atrás de bola ou pipa (a não ser quando ela tava no telhado). então eu acho que isso foi só um exemplo da honestidade um pouco exagerada e sem sentido do meu pai, que talvez queria me dar um exemplo ou um exemplo pra ele mesmo. eu posso tá errado e ele devolveu a bola pra alguém da rua ou eu posso tá certo e ele tacou a bola na rua e ela foi absorvida pela juventude que ainda crescia na rua. também lembr de uma bicicleta que eu nao lembro de onde surgiu, não lembro se meu pai me deu ou se ela simplesmente sempre existiu. a minha casa era meio estranha. era um sobrado mas na verdade ficava tudo embaixo com um quintal gigante em cima. então eu tinha um percurso que passava pelos vazos e por um pilar. olha que bizarro, eu aprendi anadar de bicicleta em casa. triste, eu diria. mas de qualquer forma eu devia ser o melhor do mundo naquele percurso. era uma coisa meio exata e a diferença entre uma volta e outra devia ter diferença de frações de segundo. aí é claro que meu pai viu toda aquela energia (uau, que energia) limitada no quintal e começou me levar nuns parques e tal. foi algo como sair da piscina pequena e ir pra grande na natação. na verdade muito mais foda que isso. aí tudo andava bem quando um muleque vida loka entrou lá em casa de madrugada e roubou uma caixa de ferramentas, o uniforme do meu colégio, e a minha bicicleta. foi do caralho. o maluquinho entrou na minha casa e roubou minha bicicleta, puta que pariu. eu fiquei totalmente triste. lembro que só fiquei triste, só isso. e lembro também da minha mãe vindo me contar da bicicleta. e essa história do muleque nao acaba aqui, e adianto pra poder chamá-lo pelo nome: Alex. O muleque nao se contentou com uma visita, ele entrou lá em casa umas 3 vezes. ele conseguia pegar umas tranqueiras nessa parte de cima que eu falei que só era quintal, e não tinha como ele entrar lá embaixo onde ficava a casa nas suas configurações tradicionais (a não ser que arrombasse umas portas). mas de qualquer forma tenho que dizer que ele era um ninja samurai de subir lá. era tipo arriscar a vida e nem tinha a moda do parkour ainda (e ele saiu com uma bicicleta nas costas uma das vezes!). enfim, eu fiquei com medo. sempre achava que ouvia uns barulhos de passos em cima do meu quarto de madrugada. aí teve um certo dia, que eu nao me lembro de nada, a minha família inteira lembra, mas eu nao acordei. então só ouvi por história. era uma madrugada comum e começaram a tocar a campainha sem parar. meu pai foi lá ver e avisaram que tinha um cara lá em cima. meu pai ligou pra polícia e eles colaram. pegaram o muleque, era a porra duma criança. devia ser um pouquinho mais velho do que eu era na época. os policiais começaram a puxar o muleque pelos cabelos e dar uns tapas. e ah, ele tava com meu uniforme da escola. meu pai interveio e disse pra parar de bater no muleque e os policiais retrucaram algo do tipo: hoje ele rouba tuas ferramentas e amanhã te dá uns tiros por aí. aí nesse movimento acho que o muleque sacou o espírito do meu pai e pediu pra comprar uma marmita na padaria antes que levassem ele. nao deixaram, é claro. depois disso o muleque tocava a campainha lá de casa e meu pai dava umas comidas pra ele, na verdade eu não lembro muito bem quantas vezes isso aconteceu, se foram 2 ou 7 vezes, enfim. meu pai um dia chegou em casa e contou que achou ele nao sei por onde e mandou ele entrar no carro. meu pai disse que ele tava com uns negócios estranhos na pele e queria levar ele no médico, aí ele nao quis e meu pai deu 10 conto pra ele sabendo que ia virar craque. foda essas lembranças que eu tenho do meu pai. passou um tempo e quando eu tava chegando em casa vi umas caixas de papelão. entrei e tava meu primo/tio na cozinha. ele tinha me trazido uma bicleta nova. fiquei feliz pra caralho e meus irmãos me ajudaram a montar, e eu tinha certeza que ia bater novos recordes mundiais no meu circuito. é muito estranho falar da infãncia e se perder na cronologia das coisas. mas o que me vem na cabeça agora é a mesa de botão. eu ganhei 50 reais de aniversário e investi nela. nao era xalingão, era uma mesa do caralho, e, diferente da que eu tenho hoje ela sempre ficava montada lá em cima porque sobrava espaço naquela casa. eu e o thiago jogávamos quase todo dia quando ele chegava do trabalho.a gente era bom mesmo eu acho. e se a minha lembrança nao tiver me enganando ele gostava mesmo de jogar e nao era só um esforço pra me fazer feliz. sabe quando uma coisa lisa cai no chão e nao da pra pegar direito e aí você tenta pegar com a unha pelo ladinho? as vezes acontecia isso com a palheta e meu irmão ficava lá tentando cutucar pra pegar e eu apertava ela com o dedão pra grudar e sair e ele falava: você enfiou o dedo no cu? se eu não me engano nessa mesma época do botão ou bem perto disso meu primo me emprestou o super nintendo, e nesse mesmo movimento diário a gente jogava international superstar soccer. uma época a gente parou de jogar campo e começamos jogar salão. era muito foda o salão. a bola nao saía e dava pra fazer gol do meio de campo logo na saída. além disso dava pra ir correndo pela linha de fundo e fazer gol sem angulo. o Diogo nunca gostou muito de joguinhos. mas eu lembro dele nessa época da gente ouvindo rádio. também lembro de ser meio diariamente que a gente ouvia aquele programa da metropolitana que chamava chupim. nao sei se é assim que escreve e nem tenho certeza absoluta do nome, mas quase. era um programa que o cara ficava passando trote durante todo o tempo. eu pensava que nao tinha jeito melhor de aproveitar uma rádio. e realmente a gente ria pra caralho. o diogo tinha algumas dezenas de playboys e outras revistas de putaria. épocas em que a punheta dependia muito mais da sua capacidade imaginativa. apesar que ele também tinha, mas isso muito mais bem escondido, umas 10 fitas de pornô. mas o vídeo cassete ficava no quarto dos meus pais então da pra ter noção da dificuldade que era uma punheta digna nos anos 90. já que eu abandonei qualquer pretensão de acertar na cronologia da minha infância paulistana vou escrever fotograficamente mesmo.lembro do thiago acordando com um brother dele num domingo e bebendo toda a água gelada da casa. eu realmente nao entendi aquilo. porque eles nao pegaram o toddy? eu lembro também do diogo preocupado em arranjar chiclete antes de sair. fumerinho desdessa época heim? era legal os fins de semana que meus pais viajavam por algum motivo de encontro de casais católicos e gente ficava sozinho em casa. era legal ver meus irmão cozinhando e gritando pela casa simplesmente porque podiam gritar. não que eles ficavam gritando que nem idiota. mas eu lembro do diogo me acordando com o rádio muito alto, e tava tocando É PAU É PEDRA e o digo cantava mais alto do que o rádio É PAU, É ROLA, enquanto o thiago fazia um arroz com milho e ervilha.


6 comentários:

nando disse...

infância é incomparavel

desao disse...

pedrada, mas o que dava pra jogar futebol de salao era o Fifa

e deu pra imaginar a preguica do seu pai de ir pegar uma pipa no telhado

moleza disse...

genial


mas arroz com milho não né

nando disse...

ahh...mas tinha ervilha tbm

diogo disse...

Caralha....pensa como foi foda ler essa pedrada!!!!
Animal mano!!!

Brubis disse...

Consigo imaginar grande parte disso, sua casa é muita clara na minha cabeça ainda...
E sempre que eu ia almoçar la sua mãe fazia linguiça na assadeira