Esperando o ônibus na rodoviária, olho de relance para um cachorro com manchas pretas pelo corpo. Ignoro-o e penso no tempo em que o ônibus vai demorar. Poucos segundos depois me volto para o cachorro novamente, fico na dúvida se ele está morto ou vivo. Fixo os olhos nele, a concentração é para perceber se o seu tórax se movimenta comprovando sua respiração. Impressionantemente durante poucos instantes eu apenas me concentrei no cachorro. A minha atenção era somente dele. Minha visão estava voltada unicamente para ele, minha audição inexistia nesse momento. Apenas um barulho estrondoso desviaria minha atenção. O cachorro estava vivo.
O ônibus chegou, saquei meus fones de ouvido e botei o som do Otto no último. No ônibus havia não mais do que 15 pessoas. Eu conseguia ver a cara de umas 6 delas. Todos estavam com caras de não estar pensando em nada, alguns cansados, e o cobrador quase cochilando. A mistura dessas caras de preguiça com o som simpático aos meus ouvidos fez com que eu me sentisse bem, mas ao mesmo tempo estranho, pois eu tava feliz, mas julgava precocemente que aquelas outras pessoas não estavam. Esse julgamento fez eu me sentir idiota, mas a minha sensação de bem estar no momento fez eu esquecer que era idiota.